Do Audion aos filmes falados

25 Setembro 2017
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Electrical Tester

Autor: Keith Wilson, engenheiro elétrico

Embora formado em Yale e doutor em Física, de Forest não era simplesmente um físico, mas um inventor. Depois de passar os primeiros anos de sua carreira trabalhando no telégrafo sem fio – uma invenção patenteada por Marconi uma década antes – de Forest se cansou das limitações da tecnologia da época e começou a experimentar novas ideias que o levaram, em 1906, a registrar uma patente para seu "Audion" – um tubo de vácuo que ele descreveu de forma simples como um "detector de som".

Sempre inquieto, de Forest passou a projetar, um ano depois, um transmissor de radiotelefone baseado em arco e o receptor Audion. Seu objetivo era transmitir música ao vivo de uma cidade para outra e, possivelmente, melhorar as comunicações transatlânticas.

Mas o que exatamente era esse misterioso Audion? Na verdade, não era nada mais do que uma válvula tríodo. A ideia surgiu em Forest quando ele percebeu que a luz de gás em seu laboratório diminuía sempre que seu aparelho de telegrafia por faísca estava ligado, e voltava ao brilho total quando o telégrafo era desligado.

Ele acreditava que poderia usar esse efeito para criar um novo tipo de detector de sinal sem fio, e que obteria melhores resultados se o gás fosse protegido contra correntes de ar. Então, ele criou um recipiente de vidro parcialmente preenchido com gás e contendo dois eletrodos separados. Em seguida, ele aqueceu os eletrodos eletricamente e expôs o tubo à radiação. Insatisfeito com os resultados, ele tentou aumentar a sensibilidade do detector adicionando um terceiro eletrodo ao tubo. Inicialmente, era como uma placa de platina perfurada e, depois, como um pedaço de fio de platina em forma de ziguezague, que de Forest chamou de "grade", provavelmente por sua semelhança com a grade de um campo de futebol americano.

Seus testes mostraram que, ao variar a diferença de potencial entre a grade e o eletrodo aquecido ou cátodo, o fluxo de elétrons entre o cátodo e o ânodo poderia ser controlado. No entanto, os primeiros dispositivos do de Forest eram extremamente temperamentais, principalmente porque ele insistia que uma certa quantidade de gás residual deveria ser mantida no tubo para garantir seu funcionamento. Como resultado disso, a adoção do Audion foi lenta.

De Forest também se envolveu em uma disputa de patentes com a empresa Marconi sobre sua nova invenção, pois a empresa alegou que o dispositivo infringia a patente de Fleming da válvula de diodo (tubo de vácuo), que já havia adquirido.

No entanto, o gênio criativo do de Forest não desanimou e ele começou a pesquisar a telefonia sem fio. Seus esforços foram bem-sucedidos e, em 1907, a Marinha dos EUA adquiriu dele um transmissor de arco com um detector de tubo de vácuo. O primeiro pedido foi para 27 unidades desses novos dispositivos, que seriam usados em manobras militares no Oceano Pacífico.

Esse novo sucesso comercial permitiu que de Forest mantivesse o foco no grande objetivo – transmitir música ao vivo. Ele fez o primeiro teste transmitindo a voz de Caruso durante um concerto da Metropolitan Opera Company. Seus esforços receberam críticas diversas e alguns não ficaram impressionados com a qualidade do som recebido.
 

Determinado, de Forest continuou seu trabalho com o Audion. Suas pesquisas revelaram que o tubo, quando devidamente configurado, poderia ser usado não apenas como detector, mas também como amplificador e oscilador. Essa descoberta levou ao abandono do aparelho de faísca de Marconi, o transmissor de arco de Poulsen e o alternador de alta frequência de Alexanderson, todos classificados como "instalação fixa", muito mais caros, em contraste com os transmissores compactos e relativamente baratos viabilizados pelo Audion.

Sempre curioso, de Forest dedicou seus últimos anos à tecnologia dos "filmes falados", que começava a surgir. Entre 1920 e 1930, ele desenvolveu, patenteou e aperfeiçoou um sistema que registrava trilhas sonoras em filmes, garantindo a sincronização precisa e confiável entre som e imagem. Basicamente, Lee de Forest foi o criador do filme falado.

Com 216 patentes registradas nos Estados Unidos, de Forest é reconhecido como um inventor brilhante, embora nunca tenha recebido a mesma fama nem o reconhecimento público dos nomes como Edison ou Marconi. Ainda assim, ele é frequentemente chamado de "pai do rádio" e "avô da televisão".

Seu trabalho com válvulas de três eletrodos comprova esse mérito, além de consolidar seu papel fundamental no início da era da eletrônica. Por suas realizações, ele foi fortemente apoiado e indicado ao Prêmio Nobel de Física, mas acabou não sendo contemplado. Será que ele merecia o prêmio? Cabe a você decidir!