A telegrafia atravessa o Atlântico – brevemente

1 Novembro 2017
-
Electrical Tester

Autor: Keith Wilson, engenheiro eletricista

Quando pensamos em telecomunicações, tendemos a imaginar que se trata de uma tecnologia relativamente nova e que, até algumas décadas atrás, as pessoas ainda precisavam recorrer a pombo-correio para enviar mensagens! Isso não é bem verdade, pois a história da comunicação elétrica de longa distância remonta a mais de um século e meio.

Na realidade, a primeira comunicação transatlântica usando o telégrafo elétrico ocorreu oficialmente em 16 de agosto de 1858, embora as mensagens de teste dos engenheiros certamente tenham sido transmitidas antes disso. É difícil superestimar o impacto desse avanço, que reduziu o tempo de comunicação entre a América do Norte e a Europa de dez dias, o tempo necessário para entregar uma mensagem por navio, para meros minutos.

A história da comunicação transatlântica por telégrafo começa duas décadas antes, na década de 1840, quando vários inventores propuseram a construção de um cabo telegráfico através do Oceano Atlântico. Edward Thornton, Alonzo Jackman, Samuel Morse, Frederic Gisborne, Cyrus Field e Charles Tilston Bright estão entre as figuras proeminentes envolvidas no projeto.

Embora a telegrafia terrestre já estivesse em uso em toda a Europa e alguns cabos submarinos curtos também estivessem em operação, a comunicação entre a Europa e a América representava um desafio muito maior. Além de o cabo estar submerso no mar em quase toda a sua extensão, havia problemas graves de atraso de sinal que não eram totalmente compreendidos na época.

Os sinais no cabo eram transmitidos usando o código Morse, com pontos representados por uma polaridade e traços pela polaridade oposta. O atraso era consequência do tempo que levava para carregar e descarregar a capacitância do cabo cada vez que a polaridade se invertia, e isso degradou seriamente os sinais, reduzindo muito a velocidade de sinalização que poderia ser alcançada. Com nosso conhecimento atual, é fácil entender que quanto mais longo o cabo, mais graves seriam os efeitos de atraso, e esse foi, de longe, o cabo mais longo já instalado.

E como se as coisas não fossem complicadas o suficiente, havia também questões práticas de fabricação a serem consideradas: quem seria capaz de fabricar um cabo tão longo e como ele poderia ser instalado? E o mais importante, como instalar um cabo em águas tão profundas quanto o Atlântico? Isso era um território desconhecido em muitos aspectos, mas, no final, um cabo foi projetado por Cyrus West Field e Charles Tilston Bright. Com financiamento obtido junto a investidores britânicos e americanos, o cabo foi fabricado conjuntamente por duas empresas inglesas – Glass, Elliot & Co. e R. S. Newall & Co.

O cabo era composto por sete fios de cobre, cada um pesando 26 kg/km (107 lbs/milha náutica), revestidos com três camadas de isolamento de guta-percha, que pesavam 64 kg/km (261 lbs/milha náutica). Sobre essa estrutura, foi enrolada uma camada de cânhamo alcatroado, sobre a qual foi aplicada uma bainha composta por 18 cordões, cada um contendo sete fios de ferro, dispostos em uma espiral compacta. O cabo finalizado pesava quase 550 kg/km. Era relativamente flexível e acreditava-se que poderia suportar uma tensão de várias toneladas.

Já no final do processo de fabricação, descobriu-se que as seções do cabo haviam sido produzidas com os fios torcidos em direções opostas. Embora a junção das duas seções tenha sido simples, esse erro acabou sendo amplamente amplificado na percepção pública.

Após uma breve mensagem inaugural, o primeiro telegrama oficial a ser transmitido entre dois continentes foi uma carta de felicitações da Rainha Vitória do Reino Unido para o Presidente dos Estados Unidos, James Buchanan. Houve grande entusiasmo com o sucesso do empreendimento, mas isso logo se mostrou prematuro. A qualidade do sinal diminuiu rapidamente e a transmissão de mensagens, que já era terrivelmente lenta - a mensagem de 98 palavras da Rainha Vitória levou 16 horas para ser transmitida - ficou ainda mais lenta, chegando a uma velocidade quase inutilizável. 

Em uma tentativa desesperada de obter uma sinalização mais rápida, Wildman Whitehouse, o engenheiro responsável pela operação do cabo no lado americano, insistiu em usar tensões cada vez mais altas, derivadas de uma bobina de indução, apesar das preocupações de Lord Kelvin, que estava assessorando as operações no lado europeu. O cabo logo falhou completamente, apenas três semanas após ter transmitido a primeira mensagem transatlântica.

Argumenta-se que a fabricação, o armazenamento e o manuseio deficientes do cabo de 1858 teriam levado à falha prematura, mesmo que ele não tivesse sido submetido a altas tensões. Seja como for, a rápida falha do cabo minou a confiança do público e dos investidores e atrasou os esforços para restaurar a conexão. Um segundo projeto de cabo finalmente foi realizado em 1865 com materiais muito melhores e, após alguns contratempos, a conexão foi concluída e colocada em operação em 28 de julho de 1866. Esse cabo se mostrou mais durável.

É fácil olhar para essa primeira tentativa e apontar erros que hoje nos parecem óbvios – quase equívocos escolares – que levaram ao fracasso do primeiro cabo. No entanto, sem as ideias diligentes e criativas dos envolvidos, o progresso das telecomunicações intercontinentais provavelmente teria ficado estagnado na era das cartas manuscritas transportadas por barcos e navios por muitos anos a mais.

Como nota final, vale mencionar que há, naturalmente, enormes diferenças entre um cabo telegráfico de 1858 e os cabos utilizados hoje para transmissão de energia. Ainda assim, esses cabos têm algo em comum: se forem submetidos a um estresse excessivo de tensão, falharão. Por isso, sempre vale a pena escolher equipamentos de teste de cabos projetados para minimizar esse estresse – uma opção que, infelizmente, não estava disponível para os pioneiros da telegrafia transatlântica no século XIX.